Outras fontes do cristianismo
Lealcy B. Junior
Conforme disse várias
vezes, o cristianismo
tomou por empréstimo
tudo quanto se fez necessário
à sua formação.
Assim, todos os ensinamentos atribuídos
a Cristo foram copiados dos povos com os quais os judeus
tiveram convivência.
A sua moral,
a moral que Cristo teria ensinado, aprendeu-a
com os filósofos
que o antecederam
em muitos séculos.
De modo que não há inovações em nenhum setor ou aspecto
do cristianismo. Antigos
povos, milênios antes,
adoraram seus deuses
semelhantemente.
Dentre as máximas
adotadas pelo cristianismo,
comento a seguinte:
“Não faças aos outros
o que não queres que a ti seja feito”.
Este ensinamento não teria partido
de Jesus, conforme
pretendem os cristãos,
não sendo sequer
uma máxima cristã,
originariamente.
Encontraremos ela em Confúcio, e ainda no bramanismo, no budismo e no mazdeismo,
fundado por Zoroastro.
Era uma orientação
filosófica e religiosa,
adotada pelos hindus.
A originalidade do cristianismo consistiu
apenas em criar as penas eternas, um absurdo desumano
e irracional. Enquanto
isso, o mazdeismo
cria a possibilidade
de regeneração do pior bandido,
admitindo mesmo a sua plena reintegração no seio da sociedade. O perdão aos inimigos foi, muito antes de Jesus,
aconselhado por Pitágoras.
Os egípcios religiosos
praticavam uma moral muito elevada.
No “Livro dos Mortos” encontramos
a confissão negativa,
de acordo com a qual a alma do morto comparecia ante o tribunal
de Osiris e proferia em alta voz as suas más ações.
O
sentimento de igualdade
e fraternidade para com os homens foi ensinado por Filon.
O cristianismo adotou
os seus ensinamentos,
atribuindo-os a Jesus.
São de Filon as seguintes palavras:
“Os que exaltam as grandezas do mundo como sendo um bem, devem ser reprimidos.”; “A distinção humana
está na inteligência
e na justiça,
embora partam do nosso escravo,
comprado com o nosso dinheiro.”;
“Porque hás de ser sempre
orgulhoso e te achares superior
aos outros?”; “Quem te trouxe
ao mundo? Nu vieste, nu morrerás, não recebendo de Deus senão o tempo entre o nascimento e a morte,
para que o apliques na concórdia e na justiça,
repudiando todos os vícios e todas as qualidades que tornam o homem um animal”; “A boa vontade
e o amor entre os homens são a fonte de todos os bens que podem existir”.
Como vemos, não há nada de novo no cristianismo. Platão
salientou a felicidade
que existe na prática da virtude. Ensinou
a tolerância à injúria e aos maus tratos, e condenou o suicídio. Recomendou
o humanismo, a castidade e o pudor,
e condenou a volúpia, a vingança e o apego demasiado aos bens. Sua moral baseou-se
na exaltação da alma, no desprezo dos sentidos e na vida contemplativa.
O Padre Nosso foi copiado
de Platão. Quem conhece bem a obra de Platão
percebe os traços
comuns entre a mesma e o cristianismo.
Filon inspirou-se em Platão e, a Igreja,
na obra de Filon, que helenizou o judaísmo.
Aristóteles afirmou que a comunidade
repousa no amor e na justiça. Admitia
a escravatura, mas libertou os seus escravos.
Poderiam existir escravos,
mas não a seu serviço.
A comunidade deveria
instruir a todos,
independentemente da classe
social, com o que ensinou
o evangelho aos Evangelhos.
A abolição do sacrifício sangrento
não foi introduzida
pelo cristianismo. Não lhe cabe tal mérito.
Gélon, da Sicília,
firmando a paz com os cartagineses, estipulou
como condição a supressão do sacrifício de vidas animais
aos seus deuses.
Sêneca aconselhava o domínio das paixões, a insensibilidade à dor e ao prazer.
Recomendava igualmente a indulgência para com os escravos, dizendo
que todos os homens são iguais. Referia-se
ao céu como fazem os cristãos, afirmando
que todos são filhos de um mesmo pai. Concebia
como pátria o Universo. Os homens deveriam
se ajudar e se amar mutuamente. Enquanto
isso, o humanismo
cristão limitou-se apenas
aos irmãos de fé. O bem visa somente a salvação da alma, o que é egoísmo, nunca humanismo. Sêneca
manifestou-se contrário à pena de morte; o cristianismo, ao contrario, é responsável por inúmeras execuções.
Admitia a tolerância
mesmo em face da culpa.
Em vez de perseguir e punir, por que não persuadir, ensinar
e converter?
Epíteto e Marco Aurélio
foram bons professores
dos cristãos. Os filósofos greco-romanos
foram grandes mestres
da moral cristã
e da consolação,
sem que para isto criassem
empresas, negócios ou castas.
O cristianismo existente antes de Jesus Cristo já pregava a moral anterior
ao martírio do Gólgota. A moral cristã
não veio de Jesus Cristo
nem dos Evangelhos,
mas nasceu da tendência natural
para o aperfeiçoamento do homem.
Não fosse a destruição sistemática
de antigas bibliotecas,
determinada pelo clero no intuito
de preservar os seus escusos
interesses, hoje seria possível patentear
com documentos à mão que a moral anterior à cristã era bem melhor
do que esta, tendo-lhe servido
de modelo. Assim,
se vê que a moral jamais foi patrimônio de castas ou de indivíduos,
sendo uma lenta conquista da humanidade, com ou sem religião, e mesmo contra
ela. Por isso é que o mundo racionaliza-se continuamente, e avança sempre
no sentido do seu aperfeiçoamento.
A bondade humana
independe da idéia religiosa. A razão nos ensina o que devemos
ao nosso meio social, independentemente da fé e da religião.
Para justificar o aparecimento de Jesus, se fez necessário
recorrer a uma moral que, no entanto,
já era um patrimônio da humanidade.
Jesus nada mais foi do que a materialização de qualidades ... que já existiam.
Por isso, mesmo em moral,
Jesus foi ator, ... não autor.
O cristianismo apenas
sistematizou e industrializou ... essa velha moral,
estabelecendo-a como um rendoso comércio.
A
IGREJA É RESPONSÁVEL
PELA DETURPAÇÃO DESSA
MORAL.
Havia a moral pela moral,
que foi substituída
pela moral bíblica,
em que só se é bom para ganhar o céu. Superpondo-se
um grupo empresarialmente forte,
extinguiu-se a moral individual.
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