quinta-feira, 5 de abril de 2018

OUTRAS FONTES DO CRISTIANISMO



Outras  fontes  do  cristianismo
Lealcy  B.  Junior

        Conforme  disse  várias  vezes,  o  cristianismo  tomou  por  empréstimo  tudo  quanto  se  fez  necessário  à  sua  formação. 
        Assim,  todos  os  ensinamentos  atribuídos  a  Cristo  foram  copiados  dos  povos  com  os  quais  os  judeus  tiveram  convivência. 
        A  sua  moral,  a  moral  que  Cristo  teria  ensinado,  aprendeu-a  com  os  filósofos  que  o  antecederam  em  muitos  séculos. 
        De  modo  que  não    inovações  em  nenhum  setor  ou  aspecto  do  cristianismo.  Antigos  povos,  milênios  antes,  adoraram  seus  deuses  semelhantemente.
        Dentre  as  máximas  adotadas  pelo  cristianismo,  comento  a  seguinte:  “Não  faças  aos  outros  o  que  não  queres  que  a  ti  seja  feito”.  Este  ensinamento  não  teria  partido  de  Jesus,  conforme  pretendem  os  cristãos,  não  sendo  sequer  uma  máxima  cristã,  originariamente.
        Encontraremos  ela  em  Confúcio,  e  ainda  no  bramanismo,  no  budismo  e  no  mazdeismo,  fundado  por  Zoroastro.  Era  uma  orientação  filosófica  e  religiosa,  adotada  pelos  hindus.
        A  originalidade  do  cristianismo  consistiu  apenas  em  criar  as  penas  eternas,  um  absurdo  desumano  e  irracional.  Enquanto  isso,  o  mazdeismo  cria  a  possibilidade  de  regeneração  do  pior  bandido,  admitindo  mesmo  a  sua  plena  reintegração  no  seio  da  sociedade.  O  perdão  aos  inimigos  foi,  muito  antes  de  Jesus,  aconselhado  por  Pitágoras.  Os  egípcios  religiosos  praticavam  uma  moral  muito  elevada. 
        No  “Livro  dos  Mortos”  encontramos  a  confissão  negativa,  de  acordo  com  a  qual  a  alma  do  morto  comparecia  ante  o  tribunal  de  Osiris  e  proferia  em  alta  voz  as  suas  más  ações.  O  sentimento  de  igualdade  e  fraternidade  para  com  os  homens  foi  ensinado  por  Filon.
        O  cristianismo  adotou  os  seus  ensinamentos,  atribuindo-os  a  Jesus.  São  de  Filon  as  seguintes  palavras:  Os  que  exaltam  as  grandezas  do  mundo  como  sendo  um  bem,  devem  ser  reprimidos.”;  “A  distinção  humana  está  na  inteligência  e  na  justiça,  embora  partam  do  nosso  escravo,  comprado  com  o  nosso  dinheiro.”;  “Porque  hás  de  ser  sempre  orgulhoso  e  te  achares  superior  aos  outros?”;  “Quem  te  trouxe  ao  mundo?  Nu  vieste,  nu  morrerás,  não  recebendo  de  Deus  senão  o  tempo  entre  o  nascimento  e  a  morte,  para  que  o  apliques  na  concórdia  e  na  justiça,  repudiando  todos  os  vícios  e  todas  as  qualidades  que  tornam  o  homem  um  animal”;  “A  boa  vontade  e  o  amor  entre  os  homens  são  a  fonte  de  todos  os  bens  que  podem  existir”.
        Como  vemos,  não    nada  de  novo  no  cristianismo.  Platão  salientou  a  felicidade  que  existe  na  prática  da  virtude.  Ensinou  a  tolerância  à  injúria  e  aos  maus  tratos,  e  condenou  o  suicídio.  Recomendou  o  humanismo,  a  castidade  e  o  pudor,  e  condenou  a  volúpia,  a  vingança  e  o  apego  demasiado  aos  bens.  Sua  moral  baseou-se  na  exaltação  da  alma,  no  desprezo  dos  sentidos  e  na  vida  contemplativa. 
        O  Padre  Nosso  foi  copiado  de  Platão.  Quem  conhece  bem  a  obra  de  Platão  percebe  os  traços  comuns  entre  a  mesma  e  o  cristianismo.  Filon  inspirou-se  em  Platão  e,  a  Igreja,  na  obra  de  Filon,  que  helenizou  o  judaísmo.
        Aristóteles  afirmou  que  a  comunidade  repousa  no  amor  e  na  justiça.  Admitia  a  escravatura,  mas  libertou  os  seus  escravos.  Poderiam  existir  escravos,  mas  não  a  seu  serviço.  A  comunidade  deveria  instruir  a  todos,  independentemente  da  classe  social,  com  o  que  ensinou  o  evangelho  aos  Evangelhos.
        A  abolição  do  sacrifício  sangrento  não  foi  introduzida  pelo  cristianismo.  Não  lhe  cabe  tal  mérito.  Gélon,  da  Sicília,  firmando  a  paz  com  os  cartagineses,  estipulou  como  condição  a  supressão  do  sacrifício  de  vidas  animais  aos  seus  deuses.
        Sêneca  aconselhava  o  domínio  das  paixões,  a  insensibilidade  à  dor  e  ao  prazer.  Recomendava  igualmente  a  indulgência  para  com  os  escravos,  dizendo  que  todos  os  homens  são  iguais.  Referia-se  ao  céu  como  fazem  os  cristãos,  afirmando  que  todos  são  filhos  de  um  mesmo  pai.  Concebia  como  pátria  o  Universo.  Os  homens  deveriam  se  ajudar  e  se  amar  mutuamente.  Enquanto  isso,  o  humanismo  cristão  limitou-se  apenas  aos  irmãos  de  fé.  O  bem  visa  somente  a  salvação  da  alma,  o  que  é  egoísmo,  nunca  humanismo.  Sêneca  manifestou-se  contrário  à  pena  de  morte;  o  cristianismo,  ao  contrario,  é  responsável  por  inúmeras  execuções. 
        Admitia  a  tolerância  mesmo  em  face  da  culpa.  Em  vez  de  perseguir  e  punir,  por  que  não  persuadir,  ensinar  e  converter?
Epíteto  e  Marco  Aurélio  foram  bons  professores  dos  cristãos.  Os  filósofos  greco-romanos  foram  grandes  mestres  da  moral  cristã  e  da  consolação,  sem  que  para  isto  criassem  empresas,  negócios  ou  castas. 
        O  cristianismo  existente  antes  de  Jesus  Cristo    pregava  a  moral  anterior  ao  martírio  do  Gólgota.  A  moral  cristã  não  veio  de  Jesus  Cristo  nem  dos  Evangelhos,  mas  nasceu  da  tendência  natural  para  o  aperfeiçoamento  do  homem.
        Não  fosse  a  destruição  sistemática  de  antigas  bibliotecas,  determinada  pelo  clero  no  intuito  de  preservar  os  seus  escusos  interesses,  hoje  seria  possível  patentear  com  documentos  à  mão  que  a  moral  anterior  à  cristã  era  bem  melhor  do  que  esta,  tendo-lhe  servido  de  modelo.  Assim,  se    que  a  moral  jamais  foi  patrimônio  de  castas  ou  de  indivíduos,  sendo  uma  lenta  conquista  da  humanidade,  com  ou  sem  religião,  e  mesmo  contra  ela.  Por  isso  é  que  o  mundo  racionaliza-se  continuamente,  e  avança  sempre  no  sentido  do  seu  aperfeiçoamento.
                A  bondade  humana  independe  da  idéia  religiosa.  A  razão  nos  ensina  o  que  devemos  ao  nosso  meio  social,  independentemente  da    e  da  religião.  Para  justificar  o  aparecimento  de  Jesus,  se  fez  necessário  recorrer  a  uma  moral  que,  no  entanto,    era  um  patrimônio  da  humanidade. 
     Jesus  nada  mais  foi  do  que  a  materialização  de  qualidades  ...  que  já  existiam.  Por  isso,  mesmo  em  moral,  Jesus  foi  ator,  ...  não  autor.  O  cristianismo  apenas  sistematizou  e  industrializou  ...  essa  velha  moral,  estabelecendo-a  como  um  rendoso  comércio
A  IGREJA  É  RESPONSÁVEL  PELA  DETURPAÇÃO  DESSA  MORAL.
        Havia  a  moral  pela  moral,  que  foi  substituída  pela  moral  bíblica,  em  que    se  é  bom  para  ganhar  o  céu.  Superpondo-se  um  grupo  empresarialmente  forte,  extinguiu-se  a  moral  individual.

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